Suelen Érica Costa da Silva
(CEFET-MG)
Operações Linguístico-Cognitivas e a enunciação escrita
Esta proposta tem como temática o processo de aquisição da enunciação escrita por crianças. O levantamento bibliográfico para elaboração do Estado da Arte desta investigação mostrou que são numerosas e significativas as contribuições acadêmicas sobre esse tema. No entanto, são ainda inexpressivos os estudos que se ocupam da análise das operações linguístico-cognitivas realizadas por falantes a partir de perspectivas teóricas diversas. A maior parte das contribuições situam-se no quadro teórico da Fonologia e ficam restritas a análises sobre o processo de transferência da forma sonora da fala para forma gráfica da escrita; a relação fonema/grafema ou a respeito do processo de construção do sistema ortográfico pela criança a partir de frases isoladas, desconsiderando a dimensão textual. A partir da articulação de contribuições teóricas da Linguística Textual; da Linguística da Enunciação; da Linguística Cognitiva; do Interacionismo Sociodiscursivo; da Sociolinguística Variacionista; da Fonologia Prosódica, propomos descrever, analisar e interpretar as operações linguístico-cognitivas realizadas pelo falante (criança) para representar (na) sua escrita, o sujeito que enuncia, o interlocutor, a temática, a finalidade da interação, o tempo bem como o espaço da enunciação. Para tanto, adotamos o raciocínio abdutivo e o modelo epistemológico o Paradigma Indiciário de Investigação este fundado em indícios, singulares e episódicos reveladores do que buscamos compreender: as operações realizadas pelos 64 falantes da pesquisa, crianças de escolas públicas e particulares de Belo Horizonte. A fim de validar a razoabilidade de nossas hipóteses e conceder certa autoridade para nossas inferências a respeito das operações linguístico-cognitivas, associamos o processo abdutivo e o modelo indiciário ao método quantitativo, especificamente à análise estatística simples. Tendo em mãos os dados quantitativos e as pistas de operações linguísticas provenientes das várias dimensões da linguagem – fonológicas, morfossintáticas, semânticas e textuais – iniciamos o processo de descrição, análise e interpretação qualitativa, indiciária e quantitativa. Os resultados indicaram que para representar, na enunciação escrita que produzem, o sujeito que enuncia eu, o interlocutor, o tu, a temática Se eu pudesse, a finalidade da interação (escrita escolar), o tempo/espaço presente e prospectivo da enunciação, os falantes apropriam-se dos recursos do Aparelho Formal da Enunciação e, por meio deles, realizam operações de natureza fonológica (hipossegmentação, alçamento vocálico, epêntese); semântica (a hipersegmentação), morfossintáticas (cancelamento do /r/ marca de infinitivo, variação de concordância de número); textuais ( correferenciação, planejamento discursivo); cognitivas (atenção, consciência, integração conceitual). Essas operações revelaram que o processo de enunciação escrito é heterogêneo, perpassado pela relação oralidade
Rafael Dias Minussi
(UNIFESP / LabLinC / TWL)
Um corpus de blends: passos para uma descrição experimental dirigida e análise de blends em PB e PE
Processos de formação de multi-palavras, em português, incluem root-compounding (e.g., toxicodependente, agridoce), word-compounding (e.g., barco-casa, guarda-roupa, cantora-atriz), e blending (e.g., cartomante, tristemunho, cantautor). Estruturas de compostos são amplamente descritas por diversos autores (e.g.,Villalva & Gonçalves 2015), enquanto há algumas controvérsias sobre as propriedades dos blends, além de haver análises contraditórias: alguns autores afirmam que blends e compostos têm uma estrutura similar, enquanto outros consideram que eles têm estruturas completamente diferentes (e.g., Sandmann, 1989; Gonçalves 2003a and Gonçalves 2003b).
Autores: Rafael Dias Minussi e Alina Villalva
Karina Zendron da Cunha
(FURB)
Exclamativas-wh, small clauses livres e interrogativas-wh do português brasileiro: experimentos de percepção
Nesta comunicação, nosso objetivo é analisar e discutir os resultados de dois experimentos de percepção de fala desenvolvidos para responder à seguinte questão: ouvintes, falantes nativos do português brasileiro (PB), conseguem identificar sentenças exclamativas, Small Clauses Livres (doravante SCLs) e interrogativas-wh, produzidas por um falante de PB, variedade florianopolitana, a partir de seu comportamento entoacional, mesmo que essas sentenças estejam fora do seu contexto de produção? Nossa hipótese prevê que os ouvintes irão identificar essas modalidades sentenciais e que terão mais facilidade em identificar uma sentença interrogativa-wh do que uma sentença exclamativa-wh ou uma SCL. Essa hipótese se baseia nos resultados de Zendron da Cunha (2015) que indica apenas um comportamento entoacional para as interrogativas-wh, e, nos resultados de Seara e Zendron da Cunha (2014) para o PB falado em Curitiba (PR) e Zendron da Cunha (2015; 2016) para o PB falado em Florianópolis (SC), que apontam, para as exclamativas-wh e as SCLs, mais de um comportamento entoacional, dependendo do elemento-wh presente em sua estrutura, no caso das exclamativas-wh, ou da composição do predicado, no caso das SCLs. De modo geral, esses estudos demonstram que (i) as exclamativas com wh ‘como’ apresentam F0 alto sobre o foco com queda no restante da sentença e, portanto, um valor de F0 baixo sobre a sílaba tônica final; (ii) as exclamativas com wh ‘quanto’ apresentam um valor alto de F0 sobre o foco, com queda ao longo da sentença, e subida sobre a sílaba tônica final; e (iii) as exclamativas com ‘que’ ora apresentaram final ascendente, ora descendente; (iv) as SCLs com intensificador no predicado têm curva final descendente, enquanto as SCLs sem intensificador têm final ascendente. Com o intuito de testar nossa hipótese, conduzimos dois experimentos de percepção de fala (testes de identificação). No primeiro, os estímulos sonoros foram filtrados (o sujeito ouvia apenas as frequências referentes à faixa de F0 que variava de 80 a 300Hz); no segundo, os estímulos foram naturais. Utilizamos, para realização dos experimentos, o software Praat. Foram submetidos aos testes de percepção, 41 sujeitos, que ouviram 68 estímulos sonoros em cada um dos experimentos. Ao ouvir o estímulo sonoro, em ambos os experimentos, o sujeito deveria escolher entre as opções ‘exclamativa’, ‘interrogativa’ e ‘não sei/outro’. Na análise estatística, as variáveis dependentes consideradas foram a porcentagem de respostas esperadas e o tempo de reação em segundos. Os resultados de ambos os experimentos revelaram que os ouvintes brasileiros conseguem reconhecer a diferença entre o comportamento entoacional das sentenças em estudo, mesmo que essas sentenças estejam fora dos seus contextos de produção. Esse resultado confirmou a nossa hipótese, baseada em Zendron da Cunha (2015), cujos resultados mostraram que as exclamativas-wh têm comportamento entoacional diferente das interrogativas-wh. Além disso, os resultados confirmaram que esses ouvintes têm maior facilidade em reconhecer uma sentença interrogativa-wh do que uma sentença exclamativa-wh ou uma SCL, já que, para as interrogativas-wh, há apenas um comportamento entoacional (ZENDRON DA CUNHA, 2015), enquanto, para as exclamativas-wh e SCLs, há mais de um comportamento entoacional (ZENDRON DA CUNHA, 2015; 2016).
Referências
ZENDRON DA CUNHA, K. Sentenças exclamativas em português brasileiro: um estudo experimental de interface. 2016. 450p. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina, Santa Catarina, Florianópolis, 2016.
ZENDRON DA CUNHA, K. O comportamento entoacional das exclamativas-wh e das interrogativas-wh no português brasileiro. Domínios de Lingu@gem, v. 9, n. 5, p. 163-192, 28 ago. 2015.
ZENDRON DA CUNHA, K.; SEARA, I. C. O padrão entoacional das exclamativas-wh em
português brasileiro. Veredas – Revista de Estudos Linguísticos, v. 18, n. 2, p. 211-229, 2014.
Jodalmara Oliveira Rocha Teixeira
(UESB)
O SE “reflexivo” no português falado em Vitória da Conquista
Originário das formas latinas sui, sibi, se (HOUAISS e VILLAR, 2009), o pronome clítico SE desenvolveu uma trajetória na qual passou a adquirir novos usos e funções ao longo do tempo que se distanciam da noção inicial de reflexividade. Esse comportamento do SE em seu percurso na história da Língua Portuguesa nos parece justificar a confusa noção à qual subjaz a conceituação de “voz reflexiva” na Tradição Gramatical, motivo pelo qual algumas variedades de SE que não mais expressam identidade entre sujeito e objeto gramaticais são todas enquadradas na categoria de pronomes reflexivos. Motivados por essas questões, objetivamos, neste estudo, analisar e descrever a variação entre a presença e o apagamento do clítico SE, em estruturas tradicionalmente classificadas como reflexivas, no vernáculo de Vitória da Conquista-BA, partindo da hipótese de que fatores linguísticos e extralinguísticos condicionam o comportamento do clítico na fala dos conquistenses. Nesse intuito, ancorados na Linguística Histórica (ROMAINE, 2009 [1982]; MATTOS e SILVA, 2004, 2006, 2008; HÉRNANDEZ-CAMPOY e CONDESILVESTRE, 2012) e na Sociolinguística Variacionista (LABOV, 1972), analisamos dados extraídos das 48 entrevistas que compõem os dois corpora orais, o Corpus do Português Popular de Vitória da Conquista e o Corpus do Português Culto de Vitória da Conquista, constituídos pelo Grupo de Pesquisa em Linguística Histórica e em Sociofuncionalismo/CNPq – Janus. Esses corpora são estratificados quanto ao sexo (masculino/feminino), tempo de escolarização (informantes menos escolarizados – com até 4 anos de escolarização/informantes mais escolarizados – com 11 anos ou mais de escolaridade) e faixa etária dos informantes (Faixa I: de 15 a 35 anos; Faixa II: de 36 a 49 anos; Faixa III: de 50 anos em diante). Para testar a nossa hipótese, controlamos, em relação à variável dependente (Presença e Apagamento do SE), oito variáveis linguísticas (Tipos de SE; Classe semântica do verbo; Transitividade do verbo; Função sintática do SE; Colocação do pronome na cláusula; Papel temático do sujeito; Animacidade do sujeito e Pessoa do sujeito) e três sociais (Escolaridade, Faixa etária e Sexo). Levantadas as ocorrências de (des)uso do SE, esses dados foram codificados e submetidos ao programa estatístico Goldvarb X (Sankoff, Tagliamonte e Smith 2005). Foram selecionados como relevantes, nesta ordem: (i) escolaridade; (ii) tipos de SE; (iii) faixa etária e (iv) classe semântica do verbo. Os resultados obtidos evidenciaram a preferência dos conquistenses pelo uso do clítico, em detrimento de seu apagamento. Quanto ao condicionamento linguístico, o uso do SE mostrou-se sensível ao tipo de clítico e à classe semântica do verbo. Relativamente ao condicionamento social, constatamos que a presença do SE é mais favorecida entre os informantes mais escolarizados e da faixa intermediária. Os nossos dados revelam que o SE, dito reflexivo, tem seu uso expandido em Vitória da Conquista. Além da reflexividade, ele assume várias funções que não mais expressam identidade entre sujeito e objeto gramaticais, comportando-se, em alguns casos, como parte integrante do verbo, sobretudo na variedade popular.
Autores: Jodalmara Oliveira Rocha Teixeira e Jorge Augusto Alves da Silva
Dany Thomaz Gonçalves
(UFRJ)
Linguagem e sexualidade: Um estudo da produção de (S) em coda na fala de gays cariocas
Desde o início dos anos 2000, os estudos sociolinguísticos têm se posicionado a partir de uma perspectiva que permite investigações entre a intersecção: linguagem e sexualidade. Debruçando-se sobre esta perspectiva, esta pesquisa tem como objetivo verificar o comportamento da produção da fricativa coronal (s) em posição de coda. Como base teórica para este trabalho, serão utilizados os pressupostos da Teoria da Variação (LABOV, 1972) que preveem que a variação linguística é inerente ao conhecimento linguístico do falante e não é autônoma, isto é, reflete o universo das relações sociais, por meio das quais os falantes se inserem, se relacionam e interagem. Ademais, consideramos também os pressupostos teóricos dos Modelos Baseados no Uso (BYBEE, 2001, 2010; PIERREHUMBERT, 2002) que prevê um caráter representacional à variação. Para alcançar nossos objetivos, analisamos a duração da consoante (s) em ocorrências extraídas de uma amostra de fala composta por falantes homossexuais cariocas e comparamos com a duração de (s) verificada em ocorrências extraídas de um grupo controle com falantes heterossexuais cariocas. As hipóteses, já verificadas em trabalhos com falantes de língua inglesa (CRIST, 1997; LINVILLE, 1998; LEVON, 2006; 2007), são as de que na fala de homossexuais masculinos há uma duração maior da produção da fricativa coronal em posição de coda.
Sabrina Evelyn Cruz Oliveira
(UNIR)
Da oralidade à escrita: o apagamento do /R/ em final de infinitivos verbais encontrados em textos de alunos do Ensino Fundamental II
Esta comunicação busca apresentar os resultados de uma pesquisa que objetiva investigar o fenômeno fonético-fonológico de apagamento do /R/ em final de infinitivos verbais presentes em textos de alunos do Ensino Fundamental II. Assim, a partir de modelos teóricos de base gerativa não lineares e considerando a natureza heterogênea das línguas naturais, observamos a relação entre oralidade e escrita, mais especificamente, entre fonética, fonologia e escrita. Para o corpus desta pesquisa, foram reunidas 82 redações de alunos do 6º ano do Ensino Fundamental II de duas instituições de ensino de Porto Velho (RO). Por meio do mapeamento, da análise e da quantificação dos dados, constatamos que, dos 545 infinitivos verbais escritos, houve 112 ocorrências de apagamento do rótico em posição de coda final, o que corresponde a 20,55% do total, que varia entre verbos de 1ª, 2ª e 3ª conjugações, como “levar”, “correr” e “dormir”. Convém considerar que a posição de coda final, seguindo a visão da estrutura da sílaba a partir das fonologias não lineares, favorece o apagamento do /R/ na fala, característica que pode ser transferida para a escrita e ocasionar desvios ortográficos, afinal, os alunos de 6º ano ainda estão em processo de desenvolvimento e amadurecimento da escrita. Dessa forma, os resultados preliminares apontam que fatores linguísticos e extralinguísticos podem condicionar a ocorrência deste fenômeno na escrita dos estudantes. A partir desses resultados, consideramos o contexto morfossintático como um dos fatores que pode influenciar o (não) apagamento do rótico, como podemos observar a partir das seguintes hipóteses: i) a presença de palavra iniciada por consoante após o verbo pode favorecer o apagamento do rótico – “casa com uma mulher”; ii) a presença de palavra iniciada por vogal após o verbo pode contribuir para a manutenção do “r” na escrita – “chamar ela”. Nesse último caso, a pronúncia das palavras em sequência pode desencadear um processo de ressilabação, ou seja, o rótico deixa de estar na coda final para compor o ataque de uma nova sílaba, resultando uma posição intervocálica que favorece a sua percepção como uma consoante vibrante. Isso evidencia que, ao fazerem o uso da escrita, as escolhas dos alunos não são aleatórias, mas parecem ser motivadas principalmente por uma variedade que já dominam – a oral. Com este estudo, portanto, pretendemos analisar e interpretar linguisticamente esse fenômeno, refletindo sobre a própria constituição da escrita e tendo como foco a sua relação com a fonética e a fonologia da língua portuguesa.
Autoras: Sabrina Evelyn Cruz Oliveira e Natália Cristine Prado
Cristina de Souza Prim
(UTFPR)
A concordância nominal em compostos formados por adjetivos e nomes do Português Brasileiro
O objetivo do trabalho é discutir como ocorre a flexão de número em compostos formados por adjetivos e nomes, partindo da hipótese de que as variações observadas no modo como os falantes pluralizam os compostos se devem a análises concorrentes, feitas pela gramática interna do falante, coexistindo na língua. Ao pôr em paralelo a flexão de número em sintagmas e em compostos formados pelas mesmas categorias, vemos que há análise ora morfológica do composto, que aponta para uma flexão no núcleo semântico do composto, ora sintática, que indica que a ordem também é chave para compreender as possibilidades flexionais atestadas. Essas diferentes análises ocorrem tanto formalmente quanto informalmente em português brasileiro. A conclusão deste trabalho é de que a flexão dos compostos está relacionada ao grau de transparência de um composto, e não apenas aos componentes internos (classes de palavras) de um composto.
Felipe Flores Kupske
(UFBA)
Redes de relacionamento e atrito fonético-fonológico em contextos de L2-dominante
Ancorado na Teoria dos Sistemas Dinâmicos Complexos, este trabalho discute o papel da variável integração e da criação de redes de relacionamento no atrito fonético-fonológico de língua materna em contextos de imigração. Para tanto, apresentamos uma análise da produção do Voice Onset Time (VOT) do português brasileiro (short lag) por 18 imigrantes brasileiras no Reino Unido, isto é, em contato com o padrão de VOT mais longo da língua inglesa (long lag). As imigrantes foram divididas em grupos em função do tempo de residência e da integração ao país hospedeiro. Os dados revelaram que brasileiras integradas à cultura dominante apresentaram valores maiores de VOT para a sua língua materna em função do tempo de residência no país com o padrão de VOT longo. O mesmo não ocorre com imigrantes não integradas que produzem valores próximos aos esperados para as compatriotas monolíngues. Assim, o atrito fonético-fonológico é confirmado apenas nos dados de imigrantes integradas. Os resultados evidenciam que gramáticas adultas são adaptativas e sensíveis às mudanças ambientais. Além disso, os dados sinalizam que variáveis não linguísticas, geralmente ignoradas, militam nas práticas de fala e nas redes de relacionamento em contextos de imigração que, por sua vez, interagem com a manutenção e o atrito linguístico.
Alexandre Melo de Sousa
(UFAC)
Toponímia em Libras: reflexos da flora, da fauna e das águas nos sinais toponímicos acreanos
Nomear espaços geográficos é uma atividade própria do homem e reflete, seja nas línguas orais, seja nas línguas de sinais, traços socioculturais do sujeito nomeador e do grupo social a que pertence e/ou marcas do ambiente natural nomeado. O presente trabalho apresenta uma análise dos topônimos em Libras que nomeiam espaços geográficos do Acre, com foco nos sinais que refletem as águas (hidrotopônimos), a flora (fitotopônimos) e a fauna (zootopônimos) próprias do ambiente amazônico. Os sinais toponímicos foram armazenados em fichas digitais propostas por Sousa e Quadros (2019) e foram analisados quanto à estrutura do topônimo em Libras e quanto aos aspectos semântico-motivacionais que influenciaram o nomeador ao batizar o espaço, com especial atenção à iconicidade (TAUB, 2001; 2012; QUADROS, 2019). O estudo segue a proposta metodológica de Sousa (2019), que constitui uma adaptação dos estudos de Dick (1990, 1992) para as especificidades linguístico-culturais da Língua Brasileira de Sinais. Os resultados mostram que o mapeamento icônico dos sinais analisados apresenta forte relação com os referentes visuais influenciadores na produção dos sinais-nome de espaços acreanos, tanto no que se refere aos traços articulatórios, quanto nos traços semântico-motivacionais.
Ivan de Souza
(UFPR)
HQ sinalizada como material plurilíngue: língua terena de sinais e língua brasileira de sinais
A presente pesquisa tem por objetivo apresentar o processo de criação da história em quadrinhos sinalizada “Séno Mókere Káxe Koixómuneti” (Sol: a pajé surda) enfatizando a elaboração do sinalário e do glossário em língua brasileira de sinais e língua terena de sinais que a envolve. Nosso principal intuito é promover reflexões acerca da elaboração de materiais bilíngues/plurilíngues para surdos a fim de promover a acessibilidade linguística valorizando às línguas de minorias como patrimônio histórico e cultural da humanidade, em especial, a língua indígena terena, a língua terena de sinais e a língua brasileira de sinais.
As línguas indígenas e as línguas de sinais são consideradas línguas de minorias, quando nos reportamos às línguas indígenas sinalizadas estamos diante de línguas de crescente risco de extinção (LEITE e QUADROS, 2004). Inúmeras pesquisas demostram, comprovam e exemplificam a necessidade se reconhecer e legitimar outras línguas no território brasileiro a fim de “desmitificar” a concepção de um país monolíngue, sendo que a cultura indígena sempre foi e será reconhecida por serem bilíngues e multilíngues.
Ao nos reportamos aos dados nacionais sobre a diversidade linguística no Brasil observamos que a pluralidade linguística vem sendo cada vez mais “invisibilizada”, os dados do IBGE (2010) revelam a existência de cerca de 274 línguas faladas por indígenas de aproximadamente 305 etnias, visto que cerca da metade das línguas possuem menos de cem falantes e línguas com até quinhentos falantes somam pouco mais de um terço de todas as línguas indígenas e menos de dez por cento dessas línguas possuem mais de dois mil falantes. Esses dados nos mostram a persistência social da ideia majoritária de um país monolíngue e a falta de conhecimento e valorização, por meio do preconceito social existente, que leva a exclusão dessas línguas minoritárias e intensificando a extinção das línguas indígenas sinalizadas e a perda de sabedorias de herança.
Na contemporaneidade, estamos perdendo essa sabedoria (línguas, culturas e identidades) de maneira descontrolada em razão de uma crise mundial na área da saúde – Pandemia (COVID-19) que vem sendo noticiado diariamente a dizimação dos povos indígena e quando o contexto envolve as línguas de sinais indígenas a vitalidade delas é mais frágil ainda a ponto de nem chegar ao conhecimento delas para os não-índios. Dessa forma, as línguas indígenas brasileiras estão em sérios riscos de extinção e de perdermos suas identidades culturais via as sabedorias dos anciãos que são repassados de geração para geração – predominantemente oral.
A fim de assegurar as línguas indígenas como patrimônio histórico cultura da humanidade e fortalecer o reconhecimento e a preservação da língua de sinais indígena terena criamos uma história em quadrinhos sinalizada priorizando a documentação dos vocábulos via registro sinalário e glossário das línguas de sinais em vídeos. O sinalários conta com 25 sinais em libras e o glossário com 75 conceitos em libras e língua terena de sinais sobre a cultura terena. A metodologia adotada foi a pesquisa netnográfica, bibliográfica e documental, em destaque, os estudos de Sumaio (2014); Soares (2018). Para criação do material plurilíngue seguimos a metodologia de Cezar (2018) envolvendo uma equipe multidisciplinar e interinstitucional na área investigada (VILHALVA, 2012; SUMAIO, 2014; SILVA, 2013) equipe formada por indígenas e não-indígenas.
A contribuição almejada é fortalecer as línguas de sinais indígenas com um “produto” em que a cultura venha ser a protagonista, que os indígenas se sintam identificados na narrativa visual. A escolha do gênero história em quadrinhos deve-se ao fato de ir ao encontro da visualidade das línguas de sinais e ser um gênero de linguagem popular que tem grande potencial de aproximar as culturas, dessa forma, contribuindo para o fortalecimento da identidade cultural e do pertencimento dos surdos das comunidades indígenas.
Natália Cristine Prado
(UNIR)
Kelly Priscilla Loddo Cezar
(UFPR)